É possível uma escola brasileira revolucionar em sua forma de funcionar? A inovação na educação começa em sala de aula, abordando assuntos de forma mais dinâmica para seus estudantes? Segundo o professor português Cristiano Silva, nosso palestrante no evento HUB18, não só é possível, como esta escola já existe.
Ao refletir sobre o formato das escolas em que ingressaria após a faculdade, Cristiano percebeu que não poderia compactuar com um sistema que condenasse 30% dos indivíduos ao fracasso e os excluísse do ciclo democrático que é o ambiente escolar em seu objetivo de assegurar a ascensão social do indivíduo.
Segundo o professor, apesar do que muitos brasileiros pensam, as inovações na educação não acontecerem só no norte, mas o entendimento europeu de que a liberdade das pessoas vale por si só, e por elas enquanto coletivo, é a sua maior força. O reflexo deste não entendimento por parte de brasileiros é visto na falta de cultura colaborativa dos jovens do país.
“A famosa Finlândia não faz 1/10 das experiências inovadoras que as escolas brasileiras fazem, mas as pessoas não verificam porque é lá no Norte”
É dentro deste contexto de inovação na educação que o professor cita sua própria escola, a Escola da Serra em Belo Horizonte, como o exemplo de um novo conceito pedagógico inovador e de liberdade coletiva em terras brasileiras. Segundo o próprio professor, em seu modelo de escola não existem salas de aula porque não existem séries.
Sendo assim, como seriam organizados espaços e tempos de modo viável dentro deste formato? A solução criada pelo professor constitui em salões de aprendizagem no conceito open space, organizados em ciclos de 30h.
A inovação na educação começa na rotina de aula
Nesta rotina, os alunos possuem espaços exclusivos de acordo com sua média de idade. Isso significa que na educação infantil, por exemplo, crianças de 2 e 3 anos têm 2 ciclos com espaço próprio e professores exclusivos. O ciclo de educação infantil, de 4 e 5 anos, têm outro espaço.
No primeiro ciclo, algo correspondente ao primário, existe um salão com o total de alunos, onde dentro dele existe um grupo especial: o das crianças que precisam ser alfabetizadas, este grupo possui, como em outras escolas, dois professores e uma auxiliar para garantir a alfabetização destes alunos. Ainda segundo o professor, não adianta inovar na educação só querendo mudar a roda, a melhor técnica pedagógica de alfabetização continua sendo a aula.
O processo de aprendizagem
Os alunos ficam dentro de um espaço restrito, com 2 educadoras e são alfabetizados principalmente no domínio da língua materna e da linguagem matemática. Quando estes alcançam uma proficiência mínima dentro da língua materna e conseguem decodificar uma mensagem escrita, os alunos vão para o espaço coletivo e passam a receber propostas de trabalho personalizadas aos conteúdos que devem desenvolver ao longo dos 3 anos de ensino fundamental.
Os trabalhos por conteúdo
Existe uma apostila com o conteúdo pelo qual o aluno terá de trabalhar. Este conteúdo tem um prazo inicial e uma previsão de entrega. Ao longo deste prazo, espera-se que os alunos desenvolvam as competências necessárias para que o professor possa emitir um juízo avaliativo dentro dos princípios da escola.
Quais seriam estes princípios? Se o aluno aprendeu ou não o conteúdo proposto. Se o aluno tiver aprendido, ele tem direito a, dentro desta área de conhecimento, negociar outra atividade com um grupo de pessoas ou professor. Se o aluno não tiver aprendido um ou mais conteúdos dentro do que foi proposto, ele permanece naquele trabalho até concluí-lo. Ou seja, o aluno não passa de ciclo acumulando dificuldades.
O futuro do aluno que precisa prestar o vestibular
Segundo o professor, em sua escola existem alunos que entraram na graduação, alunos que não entraram na graduação e alunos que passaram, por exemplo, para medicina. Porém, o professor deixa o questionamento: O que isso vale, quem disse que estudar medicina é algo bom?
Cristiano reforça que sua escola se orgulha em dizer que depois da Escola da Serra, os alunos desenvolvem habilidades quanto à convivência social, trabalho em grupo, execução de trabalhos por objetivos e projetos, além de um espírito empreendedor que os demais alunos não desenvolvem.
Curioso em entender mais sobre este formato inovador de ensino? Escute o bate papo completo.
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