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criança fugindo do monstro para simbolizar o medo

Coronavírus e crianças: simbologia do medo ou pura fantasia?

Monstros, bruxas, fantasmas, seres assustadores e criaturas de outros planetas fazem parte da fértil capacidade das crianças para o desenvolvimento de fantasias. Se com a imaginação à solta, as crianças são capazes de transformar um simples cenário bucólico em uma paisagem repleta de ameaças e seres fantásticos, que elementos fantasiosos e medonhos as crianças podem criar frente à exposição diária ao medo de um ser ainda considerado enigmático para a maioria delas: o temido coronavírus?

Ao verem a mudança de comportamento das famílias, há crianças fazendo muitos questionamentos sobre o vírus que espalha o medo pelo mundo afora, ao passo que outras preferem ignorar esse momento e viver no mundo de faz de conta que tudo está bem. Somos seres diferentes e nossas reações são múltiplas.

No entanto, a criança pequena ainda não consegue discernir a realidade da fantasia, e isso é um convite para que nós, adultos, estejamos atentos às reações emocionais dos pequenos para que possamos ajudá-los de uma forma eficiente e evitar que o pânico se torne um obstáculo para o desenvolvimento psíquico.

O medo é um sentimento inerente ao ser humano. Todos nós, em maior ou menor grau, sentimos medo. Nos tempos antigos, o foco do temor estava relacionado a perigos reais e físicos e esse sentimento nos ajudou no processo de proteção a predadores e inimigos. Embora o mundo tenha mudado, e muito, nosso cérebro ainda não percebeu isso de forma clara, e muitas situações que possam causar reações negativas, sejam elas intensas ou não, contribuem para nossa sensação de medo. Então, pensemos no medo!

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O medo à luz da neurociência

Didaticamente, podemos dividir o nosso cérebro em diferentes regiões, entre elas está o sistema límbico, envolvido principalmente com a regulação emocional, aprendizagem e memória. A amígdala, parte integrante desse sistema, ao se deparar com uma situação interpretada como sendo de medo, perigo ou estresse, ativa os mecanismos de ‘luta e fuga’, uma herança genética de nossos ancestrais, que gera a produção de adrenalina e cortisol, os chamados hormônios do estresse.

O nosso cérebro não sabe lidar bem com a questão da imprevisibilidade, pois o imprevisto demanda a formação de novas conexões neuronais, o que exige maior gasto de energia corporal. O cérebro prefere o hábito, ou seja, o que pode ser bem calculado, visto que, dessa forma, as ações e resoluções para os problemas podem ser previamente trabalhadas, requisitando menor gasto calórico.

Sendo assim, a dificuldade para resolver a falta de controle do que possa acontecer, acaba gerando emoções como o medo e a ansiedade. Logo, o medo funciona como um sistema de alarme, estimulado pela emergência de segurança frente ao desconhecido, por exemplo. É importante ressaltar que o medo se manifesta não somente diante de um perigo real e iminente, mas também frente a um perigo imaginário, o que tende a acontecer comumente com as crianças.

Boa parte do comportamento dos pequenos perante o medo é resultado da observação e imitação do comportamento do outro. Dessa forma, quando nessa época de pandemia, eles observam o comportamento tenso dos adultos, sem entender ao certo suas causas, as fantasias começam a aflorar, numa tentativa de criar símbolos, que os ajudem a interpretar o medo de uma forma mais tangível. Porém, os neurocientistas ainda não têm dados suficientes para afirmar se os cérebros das crianças estão melhor preparados do que o dos adultos para enfrentar os efeitos da pandemia. O fato é que o medo está presente e não deve ser banalizado, mas enfrentado.

As esferas positivas e negativas do medo 

Muitas vezes, ao lidarmos com as crianças, na tentativa de ajudá-las, acabamos errando ao querer tanto eliminar, quanto dominar o medo. Na realidade, o que precisamos fazer é tentar compreender e buscar respostas sobre a sua origem, como surgiu e qual significado ele oculta. Inegavelmente, o medo tem um aspecto negativo, porém, também existe um lado positivo, a ser devidamente analisado.

Aspecto positivo

O medo é a base da organização do nosso sistema de defesa, protegendo adultos e crianças de situações perigosas. Metaforicamente, pode ser comparado a um interruptor, que nos alerta e nos defende para nosso bem-estar físico e psicológico, permitindo que tenhamos uma visão mais ampla dos riscos que corremos. Ou seja, o medo nos desperta!

Uma outra perspectiva positiva com relação ao temor, é que ele nos ajuda a criar e pôr em prática estratégias que nos levam a resolver determinadas situações de uma forma mais rápida. No caso das crianças, isso pode ser útil para mais tarde elas se tornarem mais autônomas e conseguirem solucionar diversas questões em suas vidas. 

Na obra de Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, são comuns as referências ao tema do medo, que ele descreve como sendo um elemento indispensável para o desenvolvimento humano e seu processo de amadurecimento. Para o autor, o medo tem sua base nas experiências que o indivíduo tem a partir da infância, reunindo ideias e associações que dão origem às fantasias.

 Aspecto negativo

Ansiedade, estresse, irritabilidade, agressividade e sentimento de angústia são algumas respostas produzidas pelo corpo como resultado da exposição ao medo. Muitas crianças sofrem, também, com pesadelos resultantes do sentimento de medo. No caso específico do coronavírus, elas não sabem sequer do que realmente precisam se proteger, gerando alto nível de ansiedade e, muitas vezes, irritabilidade.

Nós, adultos, na tentativa de proteger a criança, inúmeras vezes, recorremos ao medo e criamos temores de origem alegórica para controlá-la. Dessa forma, acabamos contribuindo para que ela se torne insegura e vulnerável, e produzindo sintomas de ansiedade, pânico, ou até mesmo fobia, o que terá efeitos altamente negativos na sua autonomia e autoconfiança.

Outro viés negativo do medo é que ele pode comprometer seriamente a relação que a criança estabelece com o mundo. Ou seja, o sentimento de medo intenso a impossibilita de lutar ou fugir, ficando paralisada e não se relacionando com o objeto de seu temor. Essa reação nem sempre é manifestada de forma explícita pela criança, podendo aparecer disfarçada na recusa de praticar determinadas atividades e no aumento significativo da ansiedade, por exemplo.

Então, o que pode ser feito?

 Clareza de informações

Escutar os pequenos e respeitar seus medos e angústias, é fundamental, pois seus sentimentos são reais e suas causas precisam ser investigadas. Embora nem todas as crianças demonstrem com tanta clareza, elas percebem o que acontece à sua volta. Sendo assim, a melhor opção é sempre conversar, usando o bom senso e a verdade como base. Mas é importante dosar a fala, adaptá-la à faixa etária da criança e explicar o que está acontecendo de uma maneira afetuosa e sem alimentar as dimensões do medo. O fato é que quanto maior o controle do cérebro sobre os acontecimentos, menos assustadores eles se tornam, pois ele reconhece que existia uma ameaça, mas que desvaneceu mediante as informações recebidas.

Contar histórias

Quando a criança ainda é muito pequena, uma boa estratégia é mergulhar no seu mundo de fantasia com histórias, ajudando-a a enfrentar o objeto do medo quando ele surge, o que contribui para a diminuição do estresse causado pelos estímulos temidos. A criança, por sua vez, fica mais confiante para compartilhar seus sentimentos. Dessa forma, podemos transformar o coronavírus em um personagem e ensiná-la como enfrentá-lo de uma forma segura, porém não agressiva, e que não gere ansiedade. Quando a imaginação da criança é bem direcionada, colabora muito na redução dos medos. 

 Diversão em pauta

Focar na diversão é uma forma eficiente de reduzir as ansiedades produzidas pelo isolamento social e a presença constante do medo. Caso a criança tema o vírus, pegue lápis e papel o desenhe  com uma cara boba e assustada, o que pode gerar boas gargalhadas e auxiliar a criança a enfrentá-lo com mais leveza.

Jogos Educativos 

Jogos educativos também são ferramentas eficazes para ajudar as crianças a superar os medos. No decorrer do jogo, ela se descontrai e tende a ficar mais receptiva, tomando consciência das estratégias que precisa usar. Estratégias essas, que mais tarde, podem ser transferidas para o enfrentamento de problemas na vida real.

Trabalhos manuais

As atividades manuais estimulam a criatividade, a resolução de problemas, o pensamento crítico e a comunicação. Vale lembrar que tais atividades também ensinam a criança a ter resiliência ao lidar com os momentos de tentativa e erro que a execução das tarefas exige. Por fim, podemos mencionar o senso de progresso, quando a criança se torna autora do objeto por ela construído, o que contribui muito para o desenvolvimento da sua autoestima.

Atenção Plena

Nesse período de isolamento social, não só nós, adultos, precisamos de estratégias de relaxamento. As crianças também carecem de atividades que desenvolvam seu foco, atenção, concentração e respiração. Para isso, experimente transformar técnicas de atenção plena em brincadeiras. Além de garantir muita diversão, isso ajudará no desenvolvimento da regulação emocional e do autocontrole. Mas, acima de tudo, não podemos deixar que nossos medos contaminem o mundo dos pequenos.

Referência:

WINNICOTT, D. Tudo começa em casa. São Paulo: Martins Fontes, 2005

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