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Formação Docente: Uma lição do programa “Inglês Abre Portas” do Chile

A necessidade de estar atualizado, de acessar informações e, em geral, de se comunicar e estar conectado a um mundo globalizado tem sido uma constante cada vez mais comum ao longo deste século. E entre as ferramentas fundamentais para atender a essas necessidades está o idioma.

A língua inglesa percorreu um longo caminho desde o século passado para se estabelecer como a língua de convergência para conectar esta sociedade globalizada. Por isso, é importante que a formação docente seja uma prioridade em centros de ensino.

Em resposta a esse fenômeno, o estado chileno tem procurado estar em sintonia. Em primeiro lugar, com a promulgação em 1996 da disciplina de língua estrangeira inglesa como obrigatória. No Chile, meninos e meninas têm direito a 13 anos de educação escolar completa e gratuita. Isso divide-se em um ano de educação infantil, oito anos de educação básica e quatro anos de educação secundária. A disciplina de inglês é obrigatória a partir do quinto ano do ensino básico.

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Sobre o programa Inglês Abre Portas

Em 2004, um novo marco ocorreu com a criação do Programa de Fortalecimento da Aprendizagem da Língua Inglesa no Ensino Fundamental e Médio, mais conhecido como Programa Inglés Abre Puertas (PIAP). As razões de sua criação se devem à intenção do Estado de desenvolver novas competências para melhorar a vida cultural, social e profissional dos estudantes, além de aproveitar a oportunidade de desenvolvimento social e econômico a partir da inserção do Chile na economia mundial por meio de vários acordos comerciais.

O PIAP, por sua vez, visa “melhorar o nível de inglês aprendido pelos alunos do 5º ano básico ao 4º ano médio através da definição de padrões nacionais para o aprendizado do inglês, estratégia de desenvolvimento profissional docente e apoio aos professores de inglês em sala de aula” (2004). A seguir,  explicarei em detalhes como essa estratégia se desenvolveu ao longo dos 17 anos de existência do PIAP, alguns dos resultados e os desafios que temos pela frente.

Vamos começar com os padrões. De acordo com a última atualização do ano de 2012, o currículo nacional da Língua Estrangeira Inglesa no Chile está alinhado com os níveis da escala CEFR, na qual os alunos da 8ª série devem atingir o nível A2, e ao sair da 4ª série com um nível B1, por meio do cumprimento de objetivos de aprendizagem baseados no desenvolvimento de habilidades em 4 eixos: compreensão auditiva, compreensão de leitura, expressão oral e expressão escrita.

No último período, o foco do PIAP tem sido atingir o nível A1 nos alunos do final do 6º ano, de forma a garantir o cumprimento dos níveis superiores de acordo com os objetivos curriculares acima descritos. 

Passando aos padrões para os professores que lecionam o idioma, espera-se que sejam especialistas em ensino de inglês, que tenham se formado na carreira de pedagogia em inglês com nível C1 e, no caso de professores de inglês em exercício, que tenham pelo menos um nível B2. Vale ressaltar que esses requisitos são ideais, mas não obrigatórios.

Parte da estratégia do Programa em seus primeiros anos foi garantir o cumprimento dessas competências nos professores em exercício, por meio de cursos de aperfeiçoamento linguístico (de 200 horas cada, para os níveis A2 a B2) e uma pós-graduação em inglês (700 horas) para professores atuantes em educação básica.

Além de um processo de certificação do nível de inglês dos professores praticantes por meio da entrega do exame FCE, e trabalho com as faculdades de educação que ensinam pedagogia em inglês para definir os padrões a serem cumpridos pelas carreiras e o perfil de graduação de seus alunos. 

Todas essas iniciativas ajudaram a nivelar as habilidades dos professores de inglês e ter um padrão mínimo de qualidade em sala de aula que nos permitiu ir para a próxima etapa.

A estratégia de desenvolvimento profissional docente tem buscado estimular a reflexão e a atualização sobre as estratégias de aprendizagem implementadas pelos professores. Primeiramente, o PIAP assumiu a liderança de uma iniciativa que foi desenvolvida antes do programa e que continua (pelo menos no caso dos professores de inglês) até hoje.

Redes de professores de inglês e sua relação com a formação docente

As Redes de Professores de Inglês são comunidades de aprendizagem profissional formadas por mais de 2.300 professores de inglês de instituições de ensino públicas em todo o país. Essas redes surgem da necessidade de refletir e colaborar entre os pares para se adequar às novas demandas do ensino e aprendizagem do inglês no sistema escolar chileno.

Os professores que integram estas redes reúnem-se periodicamente para discutir diferentes questões e problemas que surgem do ensino de inglês em sala de aula e projetar recursos e estratégias para melhorar e aprimorar suas práticas de ensino, com o objetivo final de aumentar os níveis de aprendizagem de seus alunos.

Em segundo lugar, foi implementada uma série de iniciativas que começaram com os “retiros” ou workshops sazonais de atualização metodológica, que foram realizados durante as férias de inverno e verão, nos quais convidavam-se especialistas internacionais para trocar novas estratégias ou professores de destaque para compartilhar suas experiências de sucesso em sala de aula.

Atualmente, e no âmbito do plano “Inglês em Inglês”, que incide sobre o 5º e 6º anos, e a obtenção do nível A1 nos alunos após a conclusão do 6º ano, realiza-se a iniciativa “Teachers ‘Academy”, que  centra-se em três eixos-chave do ensino de inglês (e que, por sua vez, são as áreas em que os professores solicitam mais apoio): planejamento de aulas, avaliação da aprendizagem e diferenciação do ensino.

Esta iniciativa inclui um curso e workshops, atualmente 100% online, com a duração de três meses e complementados por um processo de acompanhamento e mentoria conduzido por pares de professores formados para a sua função de mentores.

No apoio aos professores de inglês em sala de aula, tem-se trabalhado no desenvolvimento de material de apoio, através de guias de estudo com foco na autoaprendizagem no contexto do ensino à distância que vem ocorrendo desde o ano passado.

Além disso, foi realizado o trabalho de concepção curricular de uma série de cartilhas que promovem o desenvolvimento de habilidades na língua inglesa e também estão ligadas à aprendizagem de vocabulário técnico para trabalhar a língua de forma contextualizada em especialidades da educação técnica-profissional (curso técnico)

Todas essas linhas de ação implementadas têm colhido bons frutos. Analisando a informação da Agência para a Qualidade do Ensino sobre o teste de Inglês do SIMCE, que é um exame que se aplica aos alunos do terceiro ano desde 2012, verifica-se um aumento generalizado do número de alunos obtendo resultados entre os níveis A2 e B1.

Ao separar os resultados por grupo socioeconômico, verificamos que é o grupo do meio que apresenta o maior aumento no percentual de aprovação, de 15,9% dos alunos que fizeram a prova em 2012 para 39% em 2017. O mairo desafio se encontra no grupo de baixo nível socioeconômico, que, embora tenha tido um aumento considerável na aprovação, ainda não ultrapassa os 10% de aprovação.

As mudanças na educação devem ser vistas com uma perspectiva de mais longo prazo e os resultados que se veem são um indicador disso e de que ela está no caminho certo.

Outro desafio que temos como PIAP é na institucionalização de algumas das iniciativas de desenvolvimento profissional docente, através do reconhecimento destas no sistema nacional de desenvolvimento profissional docente e seus instrumentos, de forma a oferecer um incentivo adicional à participação desses professores que são mais reticentes.

Ao longo desses 17 anos, o PIAP tem visto uma evolução na forma como suas políticas e linhas de ação são desenvolvidas, sempre levando em consideração as necessidades dos professores e o contexto da educação pública para fornecer ferramentas que beneficiem diretamente a qualidade do ensino da língua inglesa e o fortalecimento da educação Chile.

Abel Cisterna Carvajal (Mestre em Educação, Liderança e Políticas pela Universidade de Bristol e Representante Regional de Inglês (RER) no Ministério da Educação do Chile).

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